domingo, 5 de maio de 2013

Buraco no Café

Estou "desmamando" o filho de certas mordomias.
Por exemplo, não fazer mais o chocolate com leite, pela manhã.
Meio sem jeito, lentamente, com um ritual só dele, essa pequena atividade tem dado certo.
Claro que a toalha já foi "batizada" muitas vezes, fica pó de chocolate espalhado com manchas de todo tamanho!
Tudo bem. Preciso me conter para ensiná-lo.
No dia de hoje, um sucesso revelado e anunciado:
Mãeeeeeeeee.....
Vem ver!! Aprendi a mexer o chocolate com o buraco!
Buraco?
Sim, mãe. E eu agora já vou saber fazer isso no café também, como você faz.
Buraco? Que buraco?
Mãe, olha aqui!
Não fica um buraco no meio quando mexe direitinho?
Era só tu que sabia. Agora eu sei também! Êba!
Alguém, que lê isso agora, já imaginou que era legal fazer o buraco no meio do café ou do chocolate?
Eu jamais saberia isso se não tivesse um menino atento por perto.
Mais que isso.
Um criança observando tudo do mundo, nos relatando, perguntando, nos acorda da distração que os problemas nos trazem.
Eu, hoje, acordei cansada, tive pesadelos na noite anterior. A segunda-feira estava um pouco devagar.
Aí, do nada, fico sabendo o quanto é maravilhoso fazer buracos no líquido da xícara!
Entendi de uma vez por todas!
Ou acorda e vê  a vida com "olhos de criança" ou vai perder outros grandes (pequenos) espetáculos do dia a dia.
Entrei na escola do menino que vê a beleza "em todos os cantos".
E conto!



A TV ligada.
O Manuel ligado!
Que novidade...hehehehe
Crianças, já sabemos, conseguem "se ligar" em muitos assuntos ao mesmo tempo.
Primeiro, elogios para uma farofinha de frango, que inventei.
Depois, o olhar na propaganda da TV, que falava do Criança Esperança.
E lá veio a perguntinha:
Mãe, tem adulto esperança também?
Não.
Mãe, e em outras cidades? Tem algum adulto esperança?
Fiquei sem saída. O papo ficou sério.
Respondi que achava que sim. A conversa era tão filosófica que simplifiquei.
Mas, fui além.
Você acha que deve ter adulto esperança também?
Mãe, se não tem aqui na nossa cidade, tudo bem. 
Mas, se tem Criança Esperança, não acharia melhor se em todo lugar tivesse Adulto Esperança também?
Acho, claro que acho!!

Estão vendo?
Deveríamos planejar o mundo com as idéias de uma criança...hehehehe
Até para fazer propagandas.
Daria um resultado melhor!

Boa Noite !

P.S. Mando essa para a Globo!
Nunca fui a Paris. Esse nunca, porém, é apenas uma vírgula! Não fui pessoalmente, mas estive lá nessa semana.
Primeiro com as leituras do relato de viagem da minha amiga Linéia. Fiquei fascinada com a forma que ela acrescenta fatos históricos na narrativa do passeio, feito por ela e seu amado esposo.Amei a história do Castelo de Chenonceau, que Henrique II deu de presente para a amante Diane, que gostava de Jardins! 
"em 1547Henrique II ofereceu o palácio como presente à sua amante, Diane de Poitiers, a qual se tornou ardentemente ligada ao château e às suas vistas em conjunto com o rio. Ela haveria de mandar construir a ponte arcada, juntando o palácio à margem oposta. Supervisionou, então, a plantação de extensos jardins de flores e de vegetais, juntamente com uma variedade de árvores de fruto. Dispostos ao longo do rio, mas protegidos das inundações por terraços de pedra, os refinados jardins foram estabelecidos em quatro triângulos."
Não sou de ter amantes, mas me identifiquei com a Diane! Eu adoro jardins!
E o encontro com Paris continuou no sábado e no domingo.
Eu tinha um livro para ler: A Décima Segunda Noite, do Luís Fernando Veríssimo.
"A décima segunda noite' é um livro inspirado na peça 'Noite de reis', uma comédia de Shakespeare. No texto original, o duque Orsino está caído de amores pela condessa Olívia, de luto pela morte do irmão. Até que uma jovem, que se passa de homem para trabalhar na Corte, vira o mensageiro do duque, e daí começa a espiral de mal entendidos - Olívia acaba se apaixonando por ele, que na verdade é ela, que no fundo está obcecada por Orsino, o bandido fidalgo."
No entanto, no livro do Veríssimo, a história se passa em Paris e com boa parte dos personagens brasileiros.
Quem narra a história é um papagaio que decora um salão de beleza como "parte da decoração" inspirada no Brasil.
A Olívia é uma brasileira rica que mora parte do tempo em Paris e está de luto pela morte de um irmão.
Violeta, a moça que se passa por homem, é uma brasileira que se perdeu do irmão gêmeo no aeroporto Charles de Gaulle. 
Os amigos de Violeta são brasileiros pobres com vidas de tramas interessantes!
Violeta, vestida de homem, se torna confidente do dono do Salão, que é apaixonado pela nobre Olívia.
Violeta vira mensageiro do patrão. Olívia se apaixona por Violeta achando que ela é ele.
Tudo vai se esclarecer, com comédia ou tragédia, na Décima Segunda Noite!
Que, para os costumes franceses, é o dia de Reis.
Não vou contar a história.
Mas, a narração feita por um papagaio muito engraçado e a maluquice dos brasileiros na trama, são de se encantar ou se divertir.
Esse livro me salvou de um fim de semana cinzento sem nada especial na programação.
Por páginas de um bom escritor, dei uma voltinha em Paris!
Fica a dica!

Mãos Dadas



http://blog.cancaonova.com/comomaria/files/2012/05/maos-dadas.jpg



Eu seguro a mão do meu filho e converso sobre coisas que vejo pelo caminho.
Uma formiga, uma árvore que é do tamanho dele, outra que é mais do meu tamanho, um trator parado na frente da oficina e louco pela lida no campo, um gato preso atrás da grade de uma janela, um carro velho estacionado ao lado de um lindo ipê roxo.
Somos, eu e ele, personagens nesse mundo novo que nos foi apresentado num Divino momento: a condição de mãe e filho.
Segurar sua mão parece pouco para mim, e é bem pouco.
Muitas vezes já olhei para aqueles dedinhos, mergulhados na minha mão, e imaginei que um dia serão os dedos da mão de um homem do mundo.
Sei que não restará a imagem do que somos hoje, filho e mãe de mãos dadas pelas calçadas da cidade.
Sei, no entanto, que nosso coração sempre terá o calor e o aconchego dos dias remotos dessa sua infância breve.

domingo, 14 de abril de 2013

Louvor de Uma Cega




Ontem, pela manhã, abri a porta da casa e fui até o pátio.

Ao perceber que havia sol pensei: Não poderei sair de casa sem antes deixar umas roupas no varal para que sequem com esse sol quentinho.

Foi o que fiz, me dirigi até a máquina de lavar para colocar as roupas já lavadas para enxaguar. Estava agindo como uma dona de casa responsável.

Entrei em casa novamente e, enquanto me arrumava para o compromisso do meio dia, ouvia a Rádio Mãe de Deus.

O locutor informou que quem quisesse ligar para a rádio e fazer um louvor, que o telefone estava a disposição.

Um moça ligou em seguida. Falou que queria fazer um Louvor ao Senhor pelo Sol que estava maravilhoso.

Disse que, sendo cega, não podia ver o sol. Mas, deixou bem claro que havia um espaço pequeno próximo da porta da sua casa onde ela podia sentir

o seu calor e seus raios tocando sua pele.

Disse que no domingo não iria sair porque estava sem companhia, mas que estava muito feliz assim mesmo pelo lindo dia de sol, frisou mais uma vez.

O locutor, ao voltar à sua fala, emendou louvores a Deus pelas coisas lindas e singelas que a natureza nos oferece gratuitamente todos os dias.

Fiquei literalmente com vergonha.

Quando eu vi e senti o sol da manhã eu apenas pensei nele como "uma secadora de roupas".

Não me senti culpada, pois tantos compromissos do dia a dia nos tornam, sim, certos tipos de robôs que só pensam nos afazeres.

Mas, vergonha, isso sim, eu senti.

Pois, mesmo tendo todos os sentidos funcionando,  poucas vezes, no ano todo, paro para meditar (ou ver e sentir) sobre  qualquer coisa boa vinda da natureza.



A época nos faz meditar sobre transformações e mudanças.

Que essa, tão simples, de amar e louvar por um dia de sol, seja uma mudança planejada para novos tempos...



Todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las.
Augusto Cury












terça-feira, 9 de abril de 2013


Hoje fiquei muito feliz por conta de uma violeta branca.
Que coisa ! Violeta branca?
Mas, é isso mesmo. O que posso fazer se a flor se chama violeta, mas sua cor é branca?
Bom, vou contar.
Fui buscar um lanchinho no Zaffari. Na quarta-feira é dia de promoção. Adoro promoção!
Pelo folheto, exposto num display, soube que as violetas estavam na promoção.
A flor não estava tão bonita. A embalagem ( o rótulo do vaso) estava um pouco amassada e algumas folhas estavam bem grandes e cortadas.
No entanto, logo abaixo desse "cenário", de folhas machucadas e papel amassado, bem perto da raiz, dava para ver muitos brotinhos lindos. Achei que seria um ótimo negócio: uma flor de R$, 0,97 cheia de brotinhos. Ou seja, perspectiva de florzinhas novas, logo mais.
Na volta ao trabalho, comentei sobre minha aquisição com a querida estagiária de arquitetura, que é minha colega.
Ela também achou lindos os brotinhos escondidos.
Limpei a flor com cuidado. Tirei as folhas velhas e quase mortas. Retirei o rótulo de papel.
Sobraram os galhinhos verdes que estão nascendo na base da flor e um punhado de brotinhos brancos.
Com a ajuda da estagiária, reciclamos uma base de isopor branco que tornou-se suporte para o vasinho de plástico.
Ficou linda !
Se o "cara do Zaffari" visse esta obra, com certeza cobraria bem mais.
Não importa ! É só um pensamento.
O que importa dizer, o que me deixou feliz, foi o exercício de valorizar algo pela essência: os brotos que darão frutos.
Não seria assim com as pessoas?
O que alguns não dão valor, com nosso carinho ficam "sem preço"!!

Por sorte, não sou do tipo que só dá valor "aos vistosos".
Como o que fiz com a violeta, também sei olhar nas raízes e procurar a vida que brota de verdade.

Uma flor que ensina, também não tem preço !


Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.
(Érico Veríssimo)

Nos últimos tempos,
depois das perdas (morte de uma, morte de outro),
das dores alheias e inevitáveis (doenças fortes, difíceis de curar),
vem uma sensação de simplicidade diante da vida:

viver cada dia!
não!
viver cada situação (a perda, a dor da doença, a felicidade),
no mesmo instante que acontece!

Seja uma tarde fria, um passeio no domingo com chuva, afagos reservados ao filho pensador.
Seja uma saudade repentina quando come um bolinho frito que a mãe fazia!
Seja um abraço querido da amiga que surgiu, na rua, na tua frente, anos depois da adolescência.
Seja por nada, absolutamente nada, na hora de esperar o sono, numa cama quente, quando o corpo relaxou num banho farto!

Ser feliz é a meta!
Simplesmente, dá para ser.....em momentos imperdíveis!
Ando recomendando a receita de "agarrar a vida"!
Sob o Sol da Toscana Italiana

Petúnias - simplicidade elegante



Bom Dia Amigas e Amigos!
Brilha o sol em Caxias do Sul.
Raios que dão coragem! Luzes que espantam os medos! Cores que trazem a esperança para todas as lutas: do corpo e da alma!
Que todos os pensamentos entendam que, mesmo com mudanças, que a FELICIDADE acompanhe os novos passos.
Que o coração se fortaleça e não carregue ressentimento algum!
Que o perdão seja o bálsamo, principalmente para si mesmo!
A Roda Gira, diz a frase tão óbvia!
O que gira mesmo são os acontecimentos!
Até as pessoas "giram" em nossas vidas!
O que eu digo, ouvintes dessa minha Rádio Amiga, sobre essa coisa de girar?
Digo que só quem fica, no final, somos Nós e Nós!
Nunca devemos perder de vista "os nossos"!
O que não pode MESMO é deixarmos "os que não nos querem" levar, na partida, a coisa mais preciosa 
do nosso espírito: a nossa paz e nosso sorriso!
Não vale a pena esperar, apostar ou querer uma pessoa, um emprego, um bem, um sonho que não vem na nossa direção! 
Só vale a pena "VALER A PENA"! E o que não fica ao nosso lado, vale a pena?

Amigos e Amigas, faço intervalo nessa minha emissora da amizade e deixo "tocando" a bela música Depois, da Marisa Monte. Essa canção diz tudo!
Deixe partir tudo o que não te quer mais e sê feliz!
Faça esforço para, apesar de tudo, desejar a felicidade!

Depois

Depois de sonhar tantos anos,
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos,
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

Begônia Amarela - Delicadeza e Poesia






Voltei,de Porto Alegre, com minha "cabeça virada".
Já falei isso para minha amigona Stela, mas tão rapidamente que ela não entendeu.
Vou explicar o sentido cultural, na minha vida, para essa expressão.
Quando criança eu ouvia essa expressão dita pelos mais velhos em situações assim:
Alguém da família ia a um baile, ou viagem, e conhecia uma pessoa "estonteante", um lugar magnifico.
Na volta, essa pessoa anunciava: Estou apaixonado, vou casar! Ou, no caso de viagem para um novo destino: conheci um lugar muito bom para morar!
Os mais velhos só diziam: Voltou de "cabeça virada"..hehehehe
Eu gostava muito de ouvir isso e achava engraçado duas coisas:
saber da possibilidade de ter uma paixão tão repentina, por pessoa ou lugar, que fosse capaz de mudar o eixo da vida!
e, da mesma forma, gostava do pouco caso dos mais velhos que entendiam aquilo como "coisa de cabeça virada", ponto!
Não! Não vou contar que me apaixonei na minha recente viagem para Porto Alegre. Nem mesmo fiquei encantada com o lugar que já conheço há anos. A cidade não é mais novidade!
Conto, sim, um fato maluco e bom!
Pela manhã, antes do meu compromisso, eu saia cedo para "sentir o clima" das pessoas da rua.
Observava tudo! Rotina das padarias, movimento dos "descarregadores de alimento e bebidas" nos restaurantes da Andradas.
Grudava o ouvido nas conversas alheias. Tentava calcular a idade das árvores mais frondosas.
Caminhava da Barros Cassal até a João Manoel, que fica após a Praça da Alfândega, e cumpria o mesmo ritual de olhares.
Foi sempre gratificante. Não usei lotação pela manhã. Só à noite, por questão de segurança, optei pelo transporte coletivo.
Numa dessas manhãs, vi uma imagem que eu não esperava.
Não vi com os olhos que a terra consumirá algum dia.
Eu vi uma imagem de mim mesma e em outros anos para a frente desse que vivemos agora.
Onde eu estava?
Morando em Porto Alegre.
Só pensei: Nossa!
Isso não sai da minha cabeça! Aliás, como diziam meus antepassados, a imagem "virou minha cabeça"!
Eu estava muito feliz na cena que vi! Ambientada na Capital e tal! Escrevi assim apenas para rimar! hehehehe
Depois dessa "visão", já fiquei pensando nos rumos do meu futuro.
Por um detalhe matemático do meu destino, meu filho vai para a faculdade no mesmo tempo em que me aposento.
Ora! Então, não será nada difícil para ele se inscrever num vestibular lá para aqueles lados!
Fiquei tão feliz com essa revelação que não deixei de contar o fato desde aquela manhã.
Eu já tive dois momentos muito significativos com Porto Alegre e em tempos de idade diferente: entre os 15 e 19 anos e, mais tarde, entre os 32 e 37 anos.
Dessas duas experiências, sempre ficou um pergunta no ar:
Porque aquela cidade me atrai tanto?
Sempre quis morar aqui, gosto de Caxias e muito!
No entanto, desde o dia que vi o "filme do futuro", entendi o motivo da "ligação" com aquele lugar.
Viverei outro tempo da minha existência por lá.

Os anos dirão como será esse meu novo caminho!

Só sei de uma coisa:

Entendi perfeitamente o sentido de virar a cabeça que eu ouvia dos mais velhos na minha infância:
È algo muito bom! Virar a cabeça é sacudir a vida, dar um sentido! Fazer planos! Sonhar! Largar tudo!
Virar a cabeça é ter a coragem de FICAR LIVRE!

Para eles, meus antepassados, era algo perigoso! Pois, quem vira a cabeça, vai e é pra já!..hehehehe
O que significava, aos que ficavam, saudade e, no sentido prático, menos mão de obra no campo.
O que significava, aos que partiam, levar as saudades na bagagem, mas desbravar novos lugares e andar com as próprias pernas!

Não é bonito?

Desejo que, de algum modo, todos virem a cabeça algum dia!
Nunca é tarde!
A minha virou depois dos quarenta e isso tem um lado bom:
Dá para esperar o dia certo para seguir em frente!

Beijo e linda semana!


"Vida é palco é platéia, é cadeira vazia..."


Dias tristes! Não há como evitar! Dias tristes fazem parte do caminho.
Basta silenciar e esperar que tudo se acalme, como essa tempestade agora.
Esperança! Só isso! 
Esperança e Fé!
Foi só o que pude dizer entre tantas frases, no meio da noite, para quem ligou, estando triste, sem poder dormir.
Há situações, de dor, de saudade, de Adeus....quer deixam reticências....que não tem respostas!
Tempos novos! Isso, sim, novos tempos é que trazem paz e consolo!
Até lá, na hora que precisar, eu posso segurar tua mão.
Não!
Eu seguro o telefone, nessa tua noite triste, e te ouço, amiga, o tempo que precisar!
Não terei a melhor frase do mundo para te dar um consolo carinhoso.
Tenho, sim, a voz popular:
Depois disso tudo, dias melhores.
Abraço e fraternidade para QUEM JÁ PASSOU POR UMA DESPEDIDA inevitável!

terça-feira, 26 de março de 2013

Adulto Esperança


Minha rotina não é mais a mesma desde que meu filho entrou na fase das perguntas.
Não imagino mais o que é ter rotina, silêncio, certa ordem na casa desde que ele nasceu. E que vida boa é essa sem a mesmice.
Agora, nesse momento interrogativo da vida dele, então, instalou-se preciosa bagunça na minha vida.
Eu penso que estou com a cabeça, os pensamentos num lugar, e logo sou "desperta" por uma das perguntinhas do dia.
Hoje, a primeira questão veio no meio da tarde, na rua, enquanto ele me acompanhava no caminho até um consultório médico.
Eu não o levaria na consulta, foi o que pensei.
Mas, na última hora, não teve jeito, ele insistiu com as promessas infantis: levo um brinquedo e espero bem quietinho enquanto vc fala com o médico, tá?
Tá.
Foi o que fiz.
Estávamos em silêncio. Ele agitando o brinquedo no ar.
Eu pensando em qualquer coisa sobre a paisagem da rua.
E num segundo o diálogo inusitado muda tudo.
Mãe, o que é infeliz?
Você ouviu isso onde?
Sei lá.
É alguém que não é feliz.
Quem não tem alegrias vive infeliz. Quem tem alegrias vive feliz.
Tá. Tão simples quanto curta, foi a resposta dele. Só isso: tá!
Não consegui deixar algo tão sublime não ser aprofundado.
Perguntei. Você conhece alguém infeliz?
Não. Novamente resposta curta e simples.
Continuei. Para ter certeza se ele estava por dentro do tema da conversa.
Então conta para a mãe quem são as pessoas felizes que você conhece?
Resposta surpreendente de novo.
Todas, mãe! Todas as pessoas do mundo são felizes.
Parei com as perguntas e entendi perfeitamente tudo.
Ele estava certíssimo.
Das experiências de vida que tem, de apenas seis anos vividos, não há como saber de pessoas infelizes.
E, claro, para o seu universo ( o mundo) não há mesmo chances de haver infelizes.
Então, em pensamento, quis entrar nessa "verdade dele" de que não existe infelicidade.
Pensei em dados matemáticos.
Se estar feliz ou infeliz é uma questão de ponto de vista, na maioria das vezes, o que assistimos do mundo é a felicidade acontecendo.
E se momentos passam, se tudo é relativo, com as horas da amargura não será diferente.
E o que diz a experiência sobre pessoas deixando essa vida?
Ficam nos leitos de morte relatando tudo que foi bom que viveram, que tiveram.
Eu já assisti cenas assim.
Já ouvi, de um rapaz com câncer, que tinha saudades de sentar num restaurante com a companheira e comer um bom filé.
Com certeza aquela pessoa tinha comido muitos bifes. Não era essa a questão. O que lhe trazia saudades era a cena completa: um casal feliz conversando e saboreando um bife bem feito. Notaram? Pessoas, num leito de morte, tem vontade de repetir cenas vividas.
Voltando para a rua e o menino fazendo perguntas.
Nessa tarde, em Caxias do Sul, ao lado de um aprendiz da vida, quis absorver toda felicidade da tarde. A felicidade conversava comigo naquela rua.
A consulta foi ótima. O médico foi super simpático com meu pequeno acompanhante.
Aproveitei o clima e contei essa história sobre a pergunta.
Ele sorriu e me disse: Como seria bom se pudéssemos continuar nossa vida com o coração de criança.
E terminou dizendo que adorou o encontro conosco.

E o pequeno acompanhante encerrou a conversa.
Doutor, a gente não fica pequeno para sempre. É tudo mentira. Só acontece no filme.
Ai o médico riu de novo e deu um abraço nele e se despediu.
Me olhou e abriu a porta para chamar o próximo paciente.

Estou feliz em contar essa história.

Testemunho - Escritos de um mês de maio


Cesta de Café da Manhã

Ganhei, ontem, da Escola do Manuel, uma linda cesta de café da manhã pelo Dia dos Pais.
Eu não esperava, pois já havia avisado a professora que, nesse ano, o Manuel não iria participar da programação pelo dia dos pais.
E, ontem, ele veio todo sorridente me trazendo a linda sexta.
Vou corrigir. Ele não veio sorridente, veio extasiado de alegria me dar aquele presente tão legal.
E foi logo dizendo: Mãe, sabe porque é bom esse presente? E já respondeu: É bom porque a gente vai dividir, né?
E quis a garantia do que ele imaginou: Tu vai dividir comigo, né?
Já notaram que crianças disparam as perguntas?...hehehe
Sim, meu amor! Vamos dividir!
Chegando em casa, sem demora, ele já devorou algumas guloseimas.
Hoje, logo cedo, estendi a toalha e coloquei a cesta em cima da mesa. Senti uma alegria imensa por isso.
E, enquanto tomei café, lembrei de algo distante.
Veio na minha lembrança que, no tempo que foi "moda" dar esse tipo de presente.
Lembram que já teve uma febre de cestas de café da manhã?
Nesse tempo da moda, eu nunca ganhei uma. E quando via alguém recebendo essa delicadeza, em forma de presente, sempre achei o máximo.
Mas, também não fiquei triste. Somente pensava: que pena que quem me dá um presente não pensa nisso!
Então, nesse dia, parece que ouvi um anjo dizer:
Demorou, mas alguém lembrou...hehehehe
Não sei explicar porque gosto das tais cestas. Gosto. Ponto.
Mas, a história me fez lembrar de um testemunho que ouvi na Rádio Mãe de Deus.
Uma mulher falou o seguinte:
Ela disse que morou, com a família, numa casa muito legal, durante a infância até a juventude.
E que naquela casa havia coqueiros que ela gostava muito, pois ficavam ao lado da janela do seu quarto e eram como "amigos". E que, num certo tempo, um vizinho implicou com os coqueiros.
Tanto fez que o pai dela achou melhor cortar as árvores do que se intrigar com o tal homem.
Ela disse que já estava na adolescência e que sofreu muito e não contou a ninguém sobre essa dor da perda.
Anos mais tarde, já depois de quinze anos de casada, o marido dela avisou que estava querendo comprar uma chácara para o lazer da família.
Pediu a ela que fosse junto com ele ver um imóvel que tinha em vista.
Ela disse que adorou a ideia e foi com o esposo olhar a tal chácara.
Chegando lá, quando ela olhou para a casa, viu que ao lado da construção, perto das janelas laterais da casa, havia pés de coqueiros iguais aos que ela gostava e que tinha na casa da sua família.
E o marido, notando a alegria dela, perguntou:
Gostou? E ela: Sim, pode comprar. E, dessa vez, também não contou a história do amor pelos coqueiros.
Continuando, com o testemunho na rádio, ela falou:
Acho que hoje era o momento certo de eu contar essa história:
Pois, com esse testemunho, deixo claro que se Deus sabe do meu sofrimento por um gosto, uma coisa simples como pés de coqueiros, que ELE não esqueceu do que senti...e me enviou novamente os coqueiros...
O quanto Deus não faz pelas coisas mais urgentes da vida? Pensem nisso!
E, olha, o Senhor não me enviou antes os coqueiros porque no decorrer desses anos morei em apartamentos....Deus precisava de uma casa para colocar os coqueiros...hehehe...Essa foi a hora...

Não esqueçam, Deus sabe, sim, de tudo que precisamos e queremos....E sabe a hora e momento certo para recebermos suas bençãos...
Então, irmão e irmã, entregue tua vida a Deus, e ele vai acrescentando tudo...
Foi algo assim que ela disse ao concluir.
Ouvi isso há dois anos.
Foi a história que veio à minha cabeça hoje.
E sabem porque Deus não me mandou antes esta cesta?
Porque, afinal, o que é uma cesta de café da manhã para quem criou o Universo?..hehehe
Eu sei a resposta e fico cheia de emoção para contar:
Deus quis que eu recebesse esse presente simples das mãos de quem me ama de verdade e sinceramente.
E quando o Manuel me disse:
Mãe, eu fico com a geléia para passar no pão e deixo o mel p ti porque sei que tu adoooora mel no café da manhã....
Parece que anjo repetiu:
Olha, esse tipo de presente só fica bem para ser compartilhado com uma boa companhia, né?...
Esse anjo "falante" gosta muito de mim...hehehehe

Portanto, por mais simples que pareça, quando não recebemos uma coisa, por mais pequena que seja, é porque ainda não chegou a hora certa...

O importante é confiar que, mesmo sem falarmos, ELE já sabe de tudo....

Fico feliz por estar " vendo e ouvindo" essas coisas.

Paris e Leitura


Nunca fui a Paris. Esse nunca, porém, é apenas uma vírgula! Não fui pessoalmente, mas estive lá nessa semana.
Primeiro com as leituras do relato de viagem da minha amiga Linéia. Fiquei fascinada com a forma que ela acrescenta fatos históricos na narrativa do passeio, feito por ela e seu amado esposo.Amei a história do Castelo de Chenonceau, que Henrique II deu de presente para a amante Diane, que gostava de Jardins!
"em 1547, Henrique II ofereceu o palácio como presente à sua amante, Diane de Poitiers, a qual se tornou ardentemente ligada ao château e às suas vistas em conjunto com o rio. Ela haveria de mandar construir a ponte arcada, juntando o palácio à margem oposta. Supervisionou, então, a plantação de extensos jardins de flores e de vegetais, juntamente com uma variedade de árvores de fruto. Dispostos ao longo do rio, mas protegidos das inundações por terraços de pedra, os refinados jardins foram estabelecidos em quatro triângulos."
Não sou de ter amantes, mas me identifiquei com a Diane! Eu adoro jardins!
E o encontro com Paris continuou no sábado e no domingo.
Eu tinha um livro para ler: A Décima Segunda Noite, do Luís Fernando Veríssimo.
"A décima segunda noite' é um livro inspirado na peça 'Noite de reis', uma comédia de Shakespeare. No texto original, o duque Orsino está caído de amores pela condessa Olívia, de luto pela morte do irmão. Até que uma jovem, que se passa de homem para trabalhar na Corte, vira o mensageiro do duque, e daí começa a espiral de mal entendidos - Olívia acaba se apaixonando por ele, que na verdade é ela, que no fundo está obcecada por Orsino, o bandido fidalgo."
No entanto, no livro do Veríssimo, a história se passa em Paris e com boa parte dos personagens brasileiros.
Quem narra a história é um papagaio que decora um salão de beleza como "parte da decoração" inspirada no Brasil.
A Olívia é uma brasileira rica que mora parte do tempo em Paris e está de luto pela morte de um irmão.
Violeta, a moça que se passa por homem, é uma brasileira que se perdeu do irmão gêmeo no aeroporto Charles de Gaulle.
Os amigos de Violeta são brasileiros pobres com vidas de tramas interessantes!
Violeta, vestida de homem, se torna confidente do dono do Salão, que é apaixonado pela nobre Olívia.
Violeta vira mensageiro do patrão. Olívia se apaixona por Violeta achando que ela é ele.
Tudo vai se esclarecer, com comédia ou tragédia, na Décima Segunda Noite!
Que, para os costumes franceses, é o dia de Reis.
Não vou contar a história.
Mas, a narração feita por um papagaio muito engraçado e a maluquice dos brasileiros na trama, são de se encantar ou se divertir.
Esse livro me salvou de um fim de semana cinzento sem nada especial na programação.
Por páginas de um bom escritor, dei uma voltinha em Paris!
Fica a dica!

Um Livro, Um Filho e Um Cão


Ontem, cheguei em casa cedo. Horário fora do padrão.
Cedo, também, foi servido o jantar. Havia visita em casa: meu irmão mais novo.
Fiquei surpresa ao perceber às19 horas e cinquenta minutos já estava "liberada" para uma leitura.
Meu irmão foi usar o computador. Portanto, não havia necessidade de "fazer sala".
Escolhi começar algo novo, apesar de estar lendo cinco livros ao mesmo tempo.
Achei o livro CONTOS E LENDAS DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA.
Um versão da famosa história do Rei Arthur, que foi escrito por uma escritora francesa chamada Jacqueline Mirande.
Um parêntese.
A minha amiga Jacque, do cartório Balen, me disse que seu nome, Jacqueline com o c antes do q foi idéia do pai dela.
Ele disse a ela que o c daria a ela um nome francês. E rimos quando ela me contou isso.
Lembrei do fato agora. A Jacque, francesa de Caxias, é filha da escritora Maria Helena Balen.
Voltando.
Fui me acomodar para a leitura e chamei o Manuel para a aventura.
Ele ficou "mudo" ouvindo aquelas aventuras, especialmente a parte da espada excalibur, que foi tirada da pedra, com admirável facilidade, pelo cavalheiro Arthur, fato que o tornou Rei.
Notei, apesar do silêncio do momento, outra presença por perto.
Era um ser de estatura pequena e bem peludo. Um outro ouvinte de aventuras!
O cachorro da casa. Não imagino, ao certo, se estava entendendo o que ouvia.
Deitou-se próximo dos meus pés, num "pedaço" de cobertor, e ficou inerte, olhinhos atentos.
Fiz o registro da cena usando meu pensamento e meu coração!
Era um quadro lindo, sereno, divertido e puro:
Uma leitora mãe, um filho, no aconchego do ombro esquerdo da mãe, e um cachorro descansando e ouvindo.
A calmaria durou alguns minutos, pouco mais de meia hora.
O menino e o cachorro foram "acordados" pelo teor das aventuras narradas.
A criança começou a girar uma excalibur iamginária no ar. O cão sacudia o rabo e pulava tentando entender a luta do pequeno cavaleiro.
Percorreram outras peças da casa, sempre correndo e lutando com a espada do Rei Arthur.
A leitora mãe continuou grudada na leitura.
Como ela queria entrar no livro para ajudar a encontrar o Graal!
Ou, se pudesse, sentir o cheiro das florestas sempre densas, assustadoras e misteriosas!
Era impossível parar de ler.
O menino voltou com o cão. Já estavam há quase uma hora em grandes façanhas pelos "lugares imaginários" da casa.
Ela avisou que tinha acabado de ler todo o livro.
E a criança disse uma frase que a mãe adorou ouvir:
Que bom! Voltamos para saber como foi a ultima aventura!

A mãe leitora não quis contar que o Rei, depois de velho, havia sido morto numa batalha difícil.
E que Lancelot do Lago, depois da morte do Rei, e também já velho, foi morar com alguns monges e já não fazia mais aventuras.

A história foi resumida. Ela contou, aos pedaços, a parte dos bons tempos das Aventuras dos Cavaleiros da Távola Redonda e a busca do Graal.
E, por honestidade, explicou que o décimo terceiro lugar da Távola nunca foi ocupado.
Nenhum cavaleiro encontrou o Graal.
Deve haver, ainda no mundo, muitos cavaleiros a procura do Graal. Concluiu a contação.
Os olhos do menino brilharam intensamente.
Mãe, sabia que eu sei usar uma armadura!

O coração da mãe ficou encantado com um possível cavalheiro de uma possível Távola.
A leitura, sim senhor, é uma viagem e tanto!

Olhou para o relógio: 22 horas e pouco !

Hora de uma mãe recolher a família para o descanso.

E uma noite de quarta, sem TV, sem computador, sem joguinhos, sem filminhos, foi espetacular para a imaginação
de uma mãe, de um menino e de um cachorro!

Ah! O livro tem 152 páginas. Mas, de tão bem escrito, pareceu pequeno demais.

E, no próximo encontro, sobre livros, contarei a aventura de um papagaio contando uma história escrita pelo Luis Fernando Veríssimo.

Café e imaginação


Estou "desmamando" o filho de certas mordomias.
Por exemplo, não fazer mais o chocolate com leite, pela manhã.
Meio sem jeito, lentamente, com um ritual só dele, essa pequena atividade tem dado certo.
Claro que a toalha já foi "batizada" muitas vezes, fica pó de chocolate espalhado.
Tudo bem. Preciso me conter para ensiná-lo.
No dia de hoje, um sucesso revelado e anunciado:
Mãeeeeeeeee.....
Vem ver, aprendi a mexer o chocolate com o buraco!
Buraco?
Sim, mãe. E eu agora já vou saber fazer isso no café também, como vc faz.
Buraco? Que buraco?
Mãe, olha aqui!
Não fica um buraco no meio quando mexe direitinho?
Era só tu que sabia. Agora eu sei também! Êba!
Alguém, que lê isso agora, já imaginou que era legal fazer o buraco no meio do café ou do chocolate?
Eu jamais saberia isso se não tivesse um menino atento por perto.
Mais que isso.
Um criança observando tudo do mundo, nos relatando, perguntando, nos acorda da distração que os problemas nos trazem.
Eu, hoje, acordei cansada, tive pesadelos na noite anterior. A segunda-feira estava um pouco devagar.
Aí, sem que eu espere, fico sabendo o quanto é maravilhoso fazer buracos no líquido da xícara!
Entendi de uma vez por todas!
Ou acorda e vê  a vida com "olhos de criança" ou vai perder outros grandes (pequenos) espetáculos do dia a dia.
Entrei na escola do menino que vê a beleza "em todos os cantos".
E conto!

domingo, 24 de março de 2013


Mãe Exemplar
Gostaria muito de ser uma mãe exemplar. Essas mães exemplares citadas nas biografias de filhos bem sucedidos: minha mãe foi um exemplo.
Se fizesse uma pesquisa, por certo que descobriria que faço parte de um número grande na estatística das mães que sonham ser “a dos bons exemplos”.
Sei que nada pode me garantir sucesso nessa trilha desejada, mas insisto no sonho.
Nessa semana, na Escolinha, teve avaliação. Ouvi algumas frases importantes para quem quer ser a mãe de exemplos bons: Tem um ótimo vocabulário para a idade. Adora contar as histórias que ouve em casa. Tem ótimos cuidados com a Higiene. Opa! Alguns pontinhos somados na minha nota de mãe. Estou num bom caminho. Amém.
Transmiti a ele todos os elogios que recebi, por seu comportamento, e selei a converse com uns “amassinhos” e beijos.
Chegamos em casa felizes. Fiz o jantar com a dedicação de uma mãe “das melhores do ranking”!
Arrumei a cozinha, ao final da refeição, deixando tudo brilhando. Ele espalhava brinquedos, entre a sala e cozinha, e travava conversas imaginárias com alguns heróis e cavalheiros.
Antes de ir prepará-lo para a “hora de dormir”, revirei gavetas procurando um documento que precisaria no dia seguinte. Achei um livro que tenho há anos: Encontro Marcado com Mário Quintana”. Li uma página, ali mesmo, em pé, com a gaveta aberta. Desisti de procurar o tal papel e larguei o livro sobre a cama para “dar uma lidinha” antes de dormir. Fui até a sala e avisei que já era hora. Hora do que? De dormir! Ora!
Ahhhhhhhhhhhhhh, mãe ! Posso brincar só mais um pouquinho assim? Mostrou o tempo pedido com os dedinhos, indicador e polegar, bem próximos.
Tá. Eu deixo. Só esse pouquinho. Êba!
Voltei ao livro. A leitura tira, dos adultos que conhecem relógios, toda noção do tempo. Quando notei que já estava “no meio do livro”, dei uma espiada e vi que ele estava mais absorto ainda com os “amiguinhos” e brinquedos. Uma voz interna (a voz da culpa) me chamou a atenção: Hei ? Onde está a mãe exemplar? Ouvi a voz estraga prazer de leituras e brincadeiras infantis. Com custo, consegui arrumá-lo para ir para a cama. Foi quando ouvi mais uma propostinha: Deixa eu brincar só mais ummmmmmmmm minutinho na frente do espelho? Tá! Só mais esse minutinho. Voltei ao livro. O poeta contava histórias da sua vida, aparecia o pai e mãe do poeta dando exemplo de leitura. Não disse? Pais e mães aparecem nas biografias. Depois o poeta falou na morte dos pais. Isso também acontece sempre. Pais e mães dão exemplos e morrem.
Levantei a cabeça e espiei o teatro encenado na frente do espelho. Lindo, cheio de talento. Uma pena interromper. Segui no livro. Ótimo ! Emocionante! Uma pena interromper. O ator de teatro improvisado deu um salto no meu colo, enfiou a cabeça por entre meus braços e olhos para as páginas: Tem alguma história para crianças ai? Não. E o que é esse desenho desse palácio aqui nesse canto? Ah! Isso é um desenho de um casarão antigo. O poeta morou num lugar assim na sua infância. Conta um pouco? Contei e li umas poesias pequenas.
Dei um basta. Agora, sim, já é hora. Tá bom. Tá bom. Já sei. Pulou na cama. Dormiu num espaço de cinco minutinhos – esses minutinhos dos relógios dos adultos.
Olhei para o livro novamente. Voltei. Cheguei na última página e olhei para o relógio: 00:22.
Já havia lido aquele livro uma vez. Pareceu, no entanto, que a leitura era totalmente nova.
Naquela noite, após a ótima avaliação da escola, foi inevitável a minha avaliação de mãe exemplar. Nota Zero. Sim, isso mesmo. Uma mãe que lê um livro inteiro, numa única noite, e deixa o filho fazer muitas estrepolias pela casa e dormir tarde, o que pode ser?
Uma mãe fora de qualquer padrão, no mínimo.
Não há motivos para espanto das leitoras exemplares. Esses fatos, sem a disciplina do relógio adulto, só acontecem eventualmente.
Não tenho a menor resposta para a voz interna ( a estraga prazer de leitores e crianças) que diz para seguir as regras sempre. Também não tenho notas altas para a minha avaliação de mãe.
Mas, sobrou um exemplo, ou até dois: um pouco de liberdade e um pouco de leitura.