terça-feira, 26 de março de 2013

Adulto Esperança


Minha rotina não é mais a mesma desde que meu filho entrou na fase das perguntas.
Não imagino mais o que é ter rotina, silêncio, certa ordem na casa desde que ele nasceu. E que vida boa é essa sem a mesmice.
Agora, nesse momento interrogativo da vida dele, então, instalou-se preciosa bagunça na minha vida.
Eu penso que estou com a cabeça, os pensamentos num lugar, e logo sou "desperta" por uma das perguntinhas do dia.
Hoje, a primeira questão veio no meio da tarde, na rua, enquanto ele me acompanhava no caminho até um consultório médico.
Eu não o levaria na consulta, foi o que pensei.
Mas, na última hora, não teve jeito, ele insistiu com as promessas infantis: levo um brinquedo e espero bem quietinho enquanto vc fala com o médico, tá?
Tá.
Foi o que fiz.
Estávamos em silêncio. Ele agitando o brinquedo no ar.
Eu pensando em qualquer coisa sobre a paisagem da rua.
E num segundo o diálogo inusitado muda tudo.
Mãe, o que é infeliz?
Você ouviu isso onde?
Sei lá.
É alguém que não é feliz.
Quem não tem alegrias vive infeliz. Quem tem alegrias vive feliz.
Tá. Tão simples quanto curta, foi a resposta dele. Só isso: tá!
Não consegui deixar algo tão sublime não ser aprofundado.
Perguntei. Você conhece alguém infeliz?
Não. Novamente resposta curta e simples.
Continuei. Para ter certeza se ele estava por dentro do tema da conversa.
Então conta para a mãe quem são as pessoas felizes que você conhece?
Resposta surpreendente de novo.
Todas, mãe! Todas as pessoas do mundo são felizes.
Parei com as perguntas e entendi perfeitamente tudo.
Ele estava certíssimo.
Das experiências de vida que tem, de apenas seis anos vividos, não há como saber de pessoas infelizes.
E, claro, para o seu universo ( o mundo) não há mesmo chances de haver infelizes.
Então, em pensamento, quis entrar nessa "verdade dele" de que não existe infelicidade.
Pensei em dados matemáticos.
Se estar feliz ou infeliz é uma questão de ponto de vista, na maioria das vezes, o que assistimos do mundo é a felicidade acontecendo.
E se momentos passam, se tudo é relativo, com as horas da amargura não será diferente.
E o que diz a experiência sobre pessoas deixando essa vida?
Ficam nos leitos de morte relatando tudo que foi bom que viveram, que tiveram.
Eu já assisti cenas assim.
Já ouvi, de um rapaz com câncer, que tinha saudades de sentar num restaurante com a companheira e comer um bom filé.
Com certeza aquela pessoa tinha comido muitos bifes. Não era essa a questão. O que lhe trazia saudades era a cena completa: um casal feliz conversando e saboreando um bife bem feito. Notaram? Pessoas, num leito de morte, tem vontade de repetir cenas vividas.
Voltando para a rua e o menino fazendo perguntas.
Nessa tarde, em Caxias do Sul, ao lado de um aprendiz da vida, quis absorver toda felicidade da tarde. A felicidade conversava comigo naquela rua.
A consulta foi ótima. O médico foi super simpático com meu pequeno acompanhante.
Aproveitei o clima e contei essa história sobre a pergunta.
Ele sorriu e me disse: Como seria bom se pudéssemos continuar nossa vida com o coração de criança.
E terminou dizendo que adorou o encontro conosco.

E o pequeno acompanhante encerrou a conversa.
Doutor, a gente não fica pequeno para sempre. É tudo mentira. Só acontece no filme.
Ai o médico riu de novo e deu um abraço nele e se despediu.
Me olhou e abriu a porta para chamar o próximo paciente.

Estou feliz em contar essa história.

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